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SIMÃO PEDRO AMARAL
( Brasil – Maranhão )
Natural de Matinha, Maranhão. Nasceu em 11 de maio de 1954.
É escritor, artista plástico, arte educador e professor de canto. Formado em canto pele ENEM e licenciado em Educação artística pela UFMA.
Participou de “Cidades Brasileiras” no Rio de Janeiro. Ganhou Menção Honrosa de poesia pelo Centro cultural “Bandeira Tribuzzi” e 1º lugar no concurso Folclore da Fundação Cultural do Maranhão.
I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL construindo pontes. Dilercy Aragão Adler (Organizadora). São Luís: Academia Ludovicense de Letras – ALI, 2018. 298 p. ISBN 978-85-68280-12-6 No 10 353
BARCO PRÓDIGO
O barco se foi
Singrando as ondas do mar,
O barco se foi
Deixando saudades no ar.
O barco se foi
E eu fiquei no cais da esperança,
O barco se foi
Com liberdade desvairante.
Eu o olhava,
O vento soprava,
As ondas cresciam
E ele sumia.
O horizonte era seu limite
A meus olhos,
O horizonte era sem fim
À MINHA distância.
O barco se foi
Sem leme,
sem vela,
Sem direção.
Foi-se para o porto do talvez
E voltou pródigo à praia da razão.
DESEJEI VER TUDO
Senti vontade de fugir de mim
Senti vontade de fugir do eco
Senti vontade de não dizer sim
A este mundo caótico
Senti vontade de pisar o tato
Das coisas vãs que faço;
Senti minha presença longa do meu eu.
Senti vontade de ver meu corpo
Despido de mentiras
Despido de maldades
E sarado das feridas
Deste mundo conturbado.
Desejei ver tudo do meu quase nada
Andei,
Corri,
Tropecei
Caí...
Vi no chão, meu direito áspero
Vi no chão, meu avesso espinhoso
Vi no chão a estrada virgem
Crispar, verter calos dolorosos
Nos primeiros passos da dura aprendizagem
Que marca os passos-compassados da viagem
Vi no chão, minha origem,
Mas não foi em vão
Que Deus deu-me vida.
EU QUERO VIVER
Apanhei um ônibus,
Corri,
Sufoquei meus passos,
Aliviei meu cansaço,
Vivi,
Momentos apressados...
Olhei para o lado,
Vi,
Criança suja,
Coberta de trapos,
Suja dos pecados rebocos,
Coberta de consequências.
Observei coisas mais:
Olhos inocentes.
Pés descalços.
Mártir dos revezes
Preso no cárcere da carência,
Lapso de via.
Talvez traumas...
Dentro da si, talvez um grito,
Um grito emudecido,
Eu li seus olhos.
Eu quero viver!
ORFÃ
De onde venho,
Não sei.
Do meu começo,
Sou o resto.
Do que tanto desejei,
Sou a promessa.
Onde estou, não sei.
O meu limite está na vontade dos outros,
Sou refém da pobreza,
Meu corpo vestido de compaixão,
Meu interior pleno de tristeza,
Minha vida à espera da razão.
Para onde vou, não sei.
Meus digitais se perdem
No hetero-mundo transitivo,
Piso espinhos, um misto de sangue e dor;
Piso pedras, um pouco de solidez,
Um pouco de solidão.
Piso a superfície líquida,
Sinto-me como as tamareiras
A esmolar águas do deserto.
E me encontro singular, minúscula
Diante de tantas dunas,
Submersa pela carência...
*
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Página publicada em março de 2025.
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